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O vício em aprovação está enfraquecendo sua liderança?

O líder que tenta agradar sempre pode até evitar atritos no curto prazo, mas constrói um time confuso e inseguro

Existe um tipo de dependência silenciosa que parece virtude, mas corrói a liderança por dentro: a busca constante por aprovação. O líder que quer ser bem visto por todos tende a evitar tensão, adiar decisões impopulares e suavizar mensagens que precisariam ser claras. Ele parece “gente boa”, mas o time sente falta do que realmente sustenta a gestão: direção, limite e critério.

Líderes com alta necessidade de aprovação apresentam maior tendência a evitar conflitos e a postergar conversas difíceis, o que enfraquece confiança e aumenta ruído nas equipes. Agradar é uma estratégia emocional de curto prazo, enquanto liderar exige tolerar desconforto para proteger o que importa.

Aprovação é conforto emocional, não estratégia

Buscar aprovação é humano. O problema surge quando isso vira padrão decisório. O líder começa a escolher o que gera menos atrito no momento, mesmo que seja pior para o negócio. Evita dizer não, promete mais do que pode sustentar e aceita prioridades contraditórias para não frustrar ninguém.

Com o tempo, a equipe aprende uma regra perigosa: o líder não decide, ele negocia o tempo todo. Isso cria ambiguidade. E ambiguidade vira ansiedade coletiva. Quando o time não sabe qual critério vale, passa a operar em modo defensivo: pede validação para tudo, evita riscos e empurra responsabilidade para cima.

O custo invisível para a cultura

A necessidade de aprovação também muda o jeito como feedback é dado. Líderes que querem ser aceitos tendem a elogiar demais e corrigir de menos, ou corrigir tarde demais, quando já estão irritados. Isso cria um ambiente confuso: as pessoas não sabem o que está indo bem, o que precisa mudar e o que é inegociável.

Outro custo é a perda de justiça percebida. Para não desagradar, o líder pode tolerar comportamentos ruins de pessoas “difíceis” ou “muito boas tecnicamente”. O time vê e registra. E, quando a liderança não protege o combinado, a cultura enfraquece. Bons profissionais começam a se sentir trouxas por respeitar o jogo, enquanto outros aprendem que vale empurrar.

Por que alguns líderes ficam presos nisso

Em muitos casos, o vício em aprovação nasce de experiências antigas: medo de rejeição, histórico de ambientes punitivos, necessidade de provar valor o tempo todo. A liderança vira palco de validação. E qualquer desconforto social é interpretado como ameaça.

O problema é que o trabalho de liderar envolve, inevitavelmente, frustrações. Você vai dizer não. Vai revisar prioridades. Vai cobrar. Vai encerrar projetos. Vai dar feedback que não é agradável. Se você precisa ser aprovado o tempo inteiro, essas tarefas viram peso emocional e você começa a evitá-las. A empresa paga a conta em clareza e performance.

Como sair do modo “agradar” sem virar duro

O primeiro passo é trocar o objetivo interno. Em vez de “ser querido”, buscar “ser confiável”. Ser confiável significa ser coerente, previsível e justo, mesmo quando isso gera desconforto. O time não precisa amar tudo que você decide. Precisa entender que você decide por critério.

O segundo passo é treinar conversas diretas com respeito. Não é sobre agressividade. É sobre clareza. “Isso não é prioridade agora”, “esse comportamento precisa mudar”, “não vamos assumir esse prazo”. Frases simples, sustentadas com calma, tiram o líder do modo negociação infinita.

O terceiro passo é aceitar o desconforto como parte do cargo. Se toda decisão precisa ser confortável, você vira refém do ambiente. Liderança madura é a capacidade de sustentar tensão sem perder humanidade.

No fim, a aprovação é um bônus social, não um norte. O líder que tenta agradar sempre pode até evitar atritos no curto prazo, mas constrói um time confuso e inseguro. O líder que busca confiabilidade pode até desagradar em alguns momentos, mas cria algo muito mais valioso: uma cultura onde as pessoas sabem onde estão pisando.

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